Mergulhando no meio do Pacifico

Se ainda há lugares no mundo que permanecem quase intactos à presença humana, o arquipélago Revillagigedo (Ilhas de Socorro) está nessa ínfima lista! Como eram os oceanos antes de se tornarem sobrexplorados?



Para chegar às ilhas desabitadas de Revillagigedo, pertencentes ao México, navegamos mais de 28h a partir de San José del Cabo, no extremo sul da Baja Californiana. A primeira ilha a vislumbrar o horizonte é Socorro que aparenta uma atividade vulcânica recente. Os pássaros são primeiros a chegar e instalar-se no barco. Instantes depois, o silêncio rompe-se com os saltos de um grupo de baleias e, de seguida, de um grupo de golfinhos.

Nestas ilhas, os predadores de topo como tubarões, atuns, golfinhos, mantas, etc. não foram intensivamente pescados como noutras zonas do mundo e por isso estes animais não receiam os mergulhadores e estão frequentemente presentes nos mergulhos. As mantas aproximam-se milimetricamente dos mergulhadores e os golfinhos circulam em volta. Os tubarões martelo, prateados e galápagos, mais tímidos, mantem uma distancia superior.

Esta espécie de Mantas chamada "Manta Gigante" pode atingir uma envergadura de 6m!

Durante a viagem, a bordo do “Rocio del Mar”, efetuámos 18 mergulhos fantásticos, destacando-se os dois seguintes os spots:








  • El Boiler - na ilha de Socorro, uma “estação de limpeza de Mantas” onde estas aparecem frequentemente em grupos para serem desparasitadas por peixes mais pequenos.









  • Roca Partida – o rochedo fica a 10h de viagem da ilha de Socorro. Aqui todos os mergulhos são excepcionais e sempre com muita ação! Grupos de golfinhos circulam em redor dos mergulhadores, enquanto grandes atuns tentam emboscar o cardume de Fuzileiros. Os tubarões Prateados e Galápagos patrulham os fundos, aparecendo sempre misteriosamente vindos do azul. Afastando-nos do rochedo avistamos um cardume de tubarões martelo que, infelizmente, não se aproxima de nós. Tal como no início, o fim do mergulho acaba perto do grande cardume de Jacks. E na paragem de segurança, eis que o guia aponta para baixo e vemos um tubarão martelo que se aproxima, curiosamente do grupo, mas mantendo sempre uma distância larga para uma boa foto!


  • Um par de golfinhos da espécie "nariz-de-garrafa" (Tursiops aduncus). O seu estado de conservação é considerado como ameaçado.



    Frequentemente, durante os mergulhos, ouvíamos o som das baleias cantando, tão forte por vezes, que ressoava na nossa cabeça. Mas nunca as vimos, excepto uma tarde que decidimos procura-las de barco. No primeiro mergulho em apneia, aí estavam duas baleias adultas e uma cria. Assim que nos aproximámos as baleias afastaram-se.


    Acima e abaixo - Tubarão de pontas brancas de recife.


    Os últimos mergulhos foram em “El Cañon” em que o objectivo era observar os cardumes de tubarão martelo que aparecem normalmente nesta zona devido à corrente forte. Apesar de termos visto alguns exemplares, não em grupo, é difícil fotografá-los porque não se aproximam suficiente de nós, por recearem as nossas bolhas de ar. Por isso dediquei-me a fotografar os peixes de menor porte, não menos interessantes. ;-)


    Cardume de peixes "Clarion Angelfish" alimentando-se dos nutrientes que ficam no fundo.

    Há certamente poucos lugares no mundo que nos proporcionem mergulhos tão excepcionais como os que tivemos nas ilhas Socorro. A biodiversidade é enorme, como noutros lugares, mas a presença constante de pelágicos é um fenómeno raro, infelizmente, que nos mostra como eram os oceanos antes da sob exploração dos recursos do mar. É de fato imperativo ajudar a proteger os nossos oceanos!

    As minhas fotografias de mantas foram doadas à organização Manta Trust Foundation, que trabalha pela sua conservação e investigação. O padrão, existente no dorso das mantas, é único e funciona como impressão digital, identificando cada indivíduo.

    Através das fotos que enviei, os investigadores detectaram 12 mantas diferentes, sendo que, 6 destas não eram conhecidas, e 1 manta era identificada pela segunda vez. Em relação a esta última tive o privilégio de escolher o seu nome, Luíz Saldanha (que finalmente ficou apenas Saldanha porque era uma manta fêmea). Pois foi no Parque marinho Luiz Saldanha (na Serra da Arrábida) onde fiz os meus primeiros mergulhos e através do seu Livro, que comecei a identificar as espécies marinhas que via durante os mergulhos.

    A manta Saldanha tenha uma longa vida!

    Localização do Arquipélogo de Revillagigedo


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