Caminho de Santiago - Trilho Francês

Mais de 800km percorridos, 13.600m de desnível acumulado e 8 dias e meio a pedalar desde Saint-Jean Pied Port (Pirinéus Franceses) até Santiago de Compostela(Espanha). No caminho francês atravessamos paisagens fantásticas, povoações históricas e gente simpática, seguindo a rota histórica de uma das maiores peregrinações do mundo, ainda que no meu caso, sem pretextos religiosos.

Fotos: Pedro Ramos e Tito Henriques

Diário do Caminho

Dia 1 SGPP – - Pamplona [68km, D+1811m]

A súbida dos pirinéus franceses viria-se a tornar mais complicada que o previsto! As chuvas inesperadas, em meados de junho, tornaram os trilhos escorregadios e elameados. No entanto, à medida que subiamos o massisso montanhoso, a paisagem transformava-se e surgiam vistas fantásticas que motivavam a subida. A descida dos pirinéus, já em Espanha, estava repleta de bosques espectaculares. Chegamos a Roncesvalles (Navarra) e paramos num café para tomar o pequeno almoço e aquecer (à lareira!). Seguimos até Pamplona, onde ficamos no Albergue Municipal (215 camas!). A chuva forte e incessante não nos deixou visitar a cidade de Pamplona. O americano da cama do lado, não me deixou dormir roncando ao nível de uma serralharia!!
=> Locais a voltar: SGPP, Pirinéus e Pamplona

Dia 2 Pamplona – - Los Arcos [70km, D+1527m]

A chuva intensifica-se (60l por m2) os trilhos do caminho francês ficam inundados, chegamos a pedalar debaixo de àgua quando o nível da àgua no caminho ronda os joelhos. Soubemos depois que Pamplona sofreu nesse dia o maior diluvio dos ultimos anos: A étapa mais díficil do dia, o monte Pérdon, obriga-nos a levar a bicicleta à mão no meio da lama. A descida do monte Pérdon super inclinada com rochas salientes e cheia de seixos rolantes transforma-se num rio que traz as àgua e a lama do monte. Esta foi a descida mais dura e mais perigosa que já fiz e de todo o caminho. Durante quase 2 dias chuva não para, em Espanha só se houve falar da entempérie de Navarra, inundações e danos, e nós pedalámos completamente encharcados, com frio e com as bicicletas completamente carregadas de lama... À tarde a chuva cessa finalmente e entramos na região de Rioja. Paragem na "Fonte de vinho de Irache" (!!) onde abastecemos-nos de vinho Rioja e seguimos para Los Arcos, aumentando a média da velocidade do dia. ;-)

Dia 3 Los Arcos – - Belodorado [103km, D+1706m]

Dia de sol finalmente! Paragem em Logroño, capital da Rioja, para provar um Rioja aompanhado de um pintxo de morcilla. Logroño é uma cidade bastante agradável: bom vinho, boa comida, parques abundantes e centro histórico interessante. Os bosques são menos comuns e a paisagem preenche-se com campos de videiras, ora bem, ou não estivessemos na zona onde é produzido o mais conhecido vinho espanhol!

Dia 4 Belodorado – - Castro Jeriz [92km, D+1209m]

Entramos na provincia Castilla-Léon. As bicicletas ressentem-se dos trilhos em lama e somos obrigados a parar em Burgos para substituir uma suspenção e TODOS trocámos os calços de travão. À chegada ao nosso destino passamos pelas monumentais ruinas do séc XV e avistamos a povoação classificada de património da humanidade, Castro Jeriz. Como os Albergues estavam cheios, chegamos a um refúgio de “Amigos del Caminho” que funciona por donativos. O hospitaleiro é um velhote simpático (e amigo da pinga) que nos recebe com amizade "5 ciclistas? que mala suerte!". :) Após nos apresentar as regras da casa, o velhote indica-nos os nossos beliches, que já estavam ocupadas por 2 espanhois, mas que não sabiamos! Estes quando se apercebem ocupam outras 2 camas (que... por acaso já estavam ocupadas por um casal de holandeses. Saldo final: 1 holandes sem cama! Inicia-se uma interessante discusão em holandês e espanhol, em que o velho hospitaleiro meio confundindo "28 camas y 28 personas?? qué está mal?" decide então sair, sem nada resolver, com o seu amigo gordo Ramón para ir beber um copo e "aclarar" o assunto! :-) No dia seguinte somos brindados por um despertar ao som de canto gregoriano! E café com bolachas. Temos uma despedida calorosa do gordo Rámon: "Me alegro de que hayan venido, me alegra que ahora se van!" :-)
=> Locais a voltar: Castro Jeriz

Dia 5 Castro Jeriz – - Mansilla de las Mulas[119km, D+794m]

Os campos de trigo e as papoilas são a visão dominante e um pouco monótona da planicie. Aproveitamos para acelarar o ritmo e fazer kms. A distância entre as povoações é enorme (+20 ou 30km) e há poucos abrigos do sol.

Dia 6 Mansilla de las Mulas – - Ponferrada [124km, D+1767m]

A paisagem mantém-se semelhante. Passagem por León para observar a catederal e uma das poucas obras primas de Gaudi fora de Barcelona. Visitamos Astorga, uma cidade bastante interessante, com um centro histórico bonito e uma casa de Gaudi também. Almoço no restaurante com o mesmo nome da famosa ponte do Paso honroso. A planície termina e começamos a subir para o famoso monte da Cruz de Ferro onde é tradição o peregrino trazer uma pedra do seu país e deixar neste local.
=> Locais a voltar: Léon, Astorga, Ponte do Paso honroso e Molina Seca

Dia 7 Ponferrada – - Fonfria [70km, D+1951m]

Neste dia estavamos destinados às subidas mais complicadas do percurso. Em Villafranca del Bierzo iniciamos uma súbida bastante complicada, como estava escrito no muro "solo para muy duros", com um declive muito acentuado e cheio de calhaus. Após esta dura subida paramos para almoçar e resfriar os musculos das pernas num rio local. Á tarde seguiram-se 8km a subir os 800m até El Cebreiro. Entramos na Galícia e ficamos num albergue, em Fonfria, com excelentes vistas sobre a montanha e magnífica comida galega!

Dia 8 Fonfria – - Melide [91km, D+1804m]

Mais uma longa descida pelos trilhos do caminho. Paragem em Sárria para desempenar a roda da frente depois de uma queda. Atravessamos o rio Minho na localidade de Portomarin. Com paisagem galega voltamamos a pedalar entre bosques e caminhos rurais sempre subindo e descendo! Terminamos o dia numa das Pulperias mais conhecidas da Galiza, o Ezequiel, para comer o delicioso polvo galego.
=> Locais a voltar: Portomarin

Dia 9 Melide – - Santiago [54km, D+1045m]

Chegamos à Catederal de Santiago por volta das 12h, passando pelo monte Gozo. Grande viajem e excelente companhia foi uma fantástica e uma experiência que recomendo bastante!

Rota do Caminho Francês: